Monday, 25 August 2008

Inocência perdida

Esta é um “re-edição” de um dos e-mails que enviei aos meus amigos como uns 7 meses depois de ter chegado na Inglaterra. Na época, pensei até em fazer um blog, mas achava que enviando os e-mails para uma lista teria mais privacidade. Como o e-mail era longo demais, dei uma editada. Relendo agora, a impressão que eu tenho é de que realmente estava vivendo um dos períodos mais felizes da minha vida. Uma época de descobertas, de esperança – um tempo em que eu tinha muito mais energia para enfrentar às coisas. Eu gostaria muito de voltar a ter aquela “inocência”. Reler estas palavras ajuda um pouco, mas enfim, sei que não posso me prender ao passado, que tenho de seguir em frente.

(...) Quando eu era criança morria de inveja de quem morava em casa com escada e quem tinha banheira no banheiro. Hoje morando numa casa que tem escada e banheira (não é luxo, até as casas mais liseiras aqui têm) penso “Grande *¬”$£!”. Enfim, é um saco ficar subindo e descendo escada cada vez que se precisa de uma coisa e banho de banheira, francamente: você fica lá simplesmente boiando na própria mundiça!

(...) Vendo a capa da minha agenda da Tribo deste ano (sim, forcei a me mandarem esta “porcaria” daí) prestei mais atenção à foto de uma borboleta que tem nela. A gente sempre escuta aquele clichê da metamorfose, que um bicho feio vira uma coisa linda e tal. Mas reparando melhor, percebi (oh, como sou inteligente, hehehe) que fora as asas, no meio o bicho ainda se parece muito com qualquer inseto nojento. Não, não estou dizendo que uma vez feia, para sempre feia. Só quero dizer que a gente pode se aperfeiçoar em muita coisa, mas tem umas que são próprias da nossa natureza, jamais vão mudar, e a gente tem de conviver com isso. Bem, pelo menos acho que dá pra gente criar asas.

(...) Eu lá sabia que a Carly Simon tinha um filho com o James Taylor, que se chama Ben Taylor, igualzinho a um professor meu aqui! Aliás, estava lendo outro dia que ela fez aquela música You’re so vain (e vai mais na letra: “you think this song is about you...”) pro Warren Beatty, que no começo dos anos 70 parece que foi amante dela. E não é sobre ele mesmo não a musga não, muié? Oxe! Quer esculhambar, esculhamba direito! Quer bem dizer que era só sobre ela mesmo!

(...) Finalmente tive a chance de assistir Gilda na telona. Muito bom! Cada vez que assisto vejo mais coisas diferentes. Se tivesse feito a minha mona aqui, teria muito mais bibliografia e estaria em contato com mais pessoas que poderiam me ajudar. Mas o que está feito está feito, não acho que vá voltar a escrever sobre o mesmo assunto.

(...) Na Páscoa aqui estranhamente o feriado é na sexta e na... segunda! Parece que os ingleses transferem sempre pra segunda quando feriado cai em dia de fim-de-semana. Nessa acho que eles acabam tendo mais feriado do que nós! Primeiro de maio por exemplo acabou transferido pra segunda seguinte. Foi tudo tranqüilo por aqui, nas 3 semanas de “folga” que eles dão aos estudantes universitários quando chega a primavera. Aliás, tudo tem estado relativamente tranqüilo: o estágio já passou, filmamos uns lances, continuo no trabalho e é sempre bom ganhar bombons, cartão e flores quando não se espera! Pena que em breve as aulas acabam, fico só na tese e muitos dos amigos que fiz voltam aos seus respectivos países! Mas não hei de ficar tão só!

(...) Tinha me esquecido de comentar sobre o museu britânico, da época em que mandei o boletas sobre a minha primeira viagem a Londres. Enfim, lá vai a minha impressão: como esses ingleses roubaram do resto do mundo! Comentei isso com a Karmela, minha chapa grega, e ela nem ficou tão irada. Ela me disse: “Mas estando aqui mais gente de todo lugar do mundo tem chance de ver essas coisas”. É, pode ser. Mas que tem coisa demais roubada, ah tem! Curiosidade: não vi nenhuma, NENHUMA, imagem roubada do Egito que tivesse o povo desenhado fazendo aquela posição “aí dentro” com uma das mãos e um “aí fora” com a outra. Acho que vocês estão entendendo a imagem que eu estou explicando. Acho então que essa imagem é criação do Chavez mesmo, hehehe. Eles têm outras poses nos desenhos. Fiquei só pensando também, nos meus pensamentos loucos, como seria legal se de repente uma daquelas varias múmias se levantasse! O povo ia morrer de medo, mas que ia ser divertido, ah ia, hehehe!

(...) Uma das coisas que fiz recentemente foi ajudar “de gratis” com um Festival local de cinema mudo. O tema era a I Guerra Mundial e afins. Muitos dos filmes evocavam a glória do então enorme império britânico. Entendo que esses filmes foram exibidos como registro histórico, o que é importante, até porque a colonização aconteceu mesmo e não têm máquina do tempo que mude isso. Mas isso não significa que os ingleses de hoje devam se orgulhar disso, ou sei lá, que tenham saudades desse tempo. Pois o que me invocou justamente foi que muita gente, ao final da exibição dessas porcarias patrióticas do então Mega Império, aplaudiu loucamente! Só eu fiquei lá de braços cruzados! E só não sei se eles aplaudiram porque de fato eles têm orgulho e saudade desses tempos ou se é porque eles são ingleses mesmo e não seria “educado” deixar de aplaudir.

(..) Quanto a Eternal, é uma das historias de amor mais bonitas que vi recentemente! Vai ver as pessoas têm mesmo uma ligação extraordinária, maior até do que as memórias que uma tem da outra! E a Kate Winslet se garante. Muita gente esculhamba a pobi por causa de Titanic, mas se esquece que ela já fez coisas como Heavenly Creatures.

(...) Daí chego no centro da cidade e pego o metro pra área onde o Beto (primo da mamy) mora, Blackheath. A estação dele é North Greenwich, a que fica em cima do Millenium Dome, o tal do circo branco gigante, considerado um dos maiores elefantes brancos deste país. Mas enfim, chego, a estação é chiquérrima, saio para esperá-lo que ele disse que viria me pegar de carro. Daí enquanto espero começo a ouvir tocar umas musicas dos Beatles, como se fosse ao vivo, na voz de Sir Paul! Toca Sgt Peppers (não o álbum todo, só a música mesmo), Lady Madonna e outras coisas. E Live and Let Die, que e só dele. Então eu penso: “Será? Ele? O Paul, metros de distância de mim? Como? Não parece ser show, não tem barulho de multidão. Não pode ser...”. Mas depois eu fui checar na internet: ERA ELE! PAUL ESTEVE HÁ POUCOS METROS DE MIM! Isso porque ele alugou o Millenium Dome por essas últimas 3 semanas para ensaiar pra Mega turnê mundial dele que vai começar em breve! É por essas e outras, como ouvir um doidinho tocando por uns trocados no meio do metro Wild Horses, e apertar a mão do Ken Loach que eu fico feliz por estar onde estou!

(...) Então fui até Notting Hill, andar pelo mercado de Portobello e tudo mais. É uma gracinha o bairro, mas se não tivessem feito um filme que tinha o nome dele, nem seria tão fashion assim. É um lugar como qualquer outro, com suas gentes e lendas. Podia então bem ser “Um Lugar Chamado José Walter”, hehehe!

(...) Brighton! Pensei que como já estava em Londres, podia ir só mais um pouco ao sul pra uma cidade litorânea, matar saudade do mar. A maior parte das praias deste país e de pedrinha e mal tem ondas, mar cinza e tals. E no dia estava chovendo. Mesmo assim, valeu a pena. O pier de lá tem varias coisas, e achei a cidade um charme, mas como estava só e carregando uma bolsa pesada, não me demorei muito por lá. Mas do pouco que passei, fiquei uma meia hora só olhando pro mar, como se eu nunca tivesse visto antes! E fácil achar que isso é bobagem quando se está em Fortaleza e se pode ver o mar a qualquer hora, mas não é o mesmo quando se passa mais de 4 meses sem vê-lo. Já ouvi gente que diz se sentir agoniada quando vê aquele mundão de água – geralmente gente que não nasceu e cresceu no litoral. Pois pra mim, o mar da uma sensação de liberdade (um clichê verdadeiro!) que nada mais dá. E como a Jen disse no final de Dawson’s (putz, a que nível eu cheguei, hehehe!) o mar nos força a sonhar!

(...) blá, provavelmente já tem gente por demais no mundo escrevendo historinhas de viagens!

E eu adiciono agora, em 2008: Ou não...